Sobre correr, viver, rir e chorar.
- VILLY FOMIN
- 15 de jun. de 2019
- 2 min de leitura
Atualizado: 26 de jun. de 2019
Já corri treze maratonas, 42.195 metros. A alegria da chegada é indescritível. A dor depois da corrida, também…
Lembro quando cruzei a linha de chegada na ultramaratona no deserto do Saara (104 km), alegria e dor de mãos dadas. Logo depois que passou o êxtase da conclusão da prova, assim que a endorfina deixou de exercer seu efeito sublimador, a dor tomou conta de tudo, sentar e tirar o tênis foi uma batalha, dói só de lembrar! Um evento, vários sentimentos. Quem quer correr tem que aprender a conviver com a dor.
A vida é assim, vivemos alegrias, a felicidade invade nos proporcionando momentos inacreditáveis, minutos depois tudo pode mudar, a tristeza também chega sem pedir licença. Um telefonema pode mudar nosso humor. Nosso mundo interno é complexo e precisamos aprender a lidar com esses conflitos.
Somos um oceano, há dias de calmaria e há dias de agressivas ondas.
A alegria precisa da tristeza para ser alegria. Não sentir tristeza seria a morte de uma parte de nossa humanidade. Não sofrer diante de uma perda nos tornaria insensíveis, frios.
O rabino Harold Kushner diz que "no dia em que aprendermos a não sentir dor também não sentiremos mais prazer, não sentiremos mais nada". Para não sentir é preciso morrer.
Não estou dizendo que sofrer é bom, mas afirmando que a dor faz parte da vida e que pode ser um elemento nos processos criativos do viver: fazer um curso é dolorido, dá muito trabalho, noites em claro pesquisando, escrevendo, dá vontade de desistir, mas quem persevera vive o êxtase da conclusão. Tem alegria e tem dor, o sofrimento das noites em claro potencializa a alegria da conclusão.
Momentos difíceis fazem parte da corrida, diante deles podemos desistir ou descobrir novos recursos internos e continuar na prova.
Deixe sua humanidade fluir. Ria muito, ria de bobagens, ria de você mesmo e não deixe de chorar por bobagens também, perca o fôlego de tanto chorar assistindo um filme.
Entre em contato com seu sofrimento, assumir que está doendo pode ser o que te levará a seguir. Negar a dor só fará com que ela ganhe força e com que sua humanidade seja deformada.
Se fosse possível não sentir dor sob a condição de não sentir mais nada, a vida deixaria de ser vida e eu deixaria de correr. Não chorar de emoção ao ver a linha de chegada? Nem pensar!
Em quase todas maratonas que corri, havia alguém segurando uma placa: "A dor é passageira, a alegria da chegada é eterna”.
Somos humanos e todas as emoções estão na pista na balada da existência.
Bem disse o Saramago: Se tens um coração de ferro, bom proveito. O meu, fizeram-no de carne e sangra todo dia.
Altos risos e boas dores à você.
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