Foguete não tem ré, e dai?
- VILLY FOMIN
- 6 de jul. de 2023
- 2 min de leitura
Vivemos na tirania do sucesso. Caso você esteja num momento de poucas realizações, não tem crise, o importante não é sorrir e sim postar sorrisos. Não é preciso ser, basta conseguir postar que você é. Triste, muito triste quem precisa provar que é feliz. Faço parte do time que contempla a frustração como um processo inevitável e essencial na formação do ser humano, entendo que as derrotas são doloridas, mas por serem parte da vida podem entrar nas biografias como processos pedagógicos de autoconhecimento, reinvenção, resiliência entre outras virtudes que são construídas e não herdadas. Perder é do viver.
Acredito que você já tenha escutado que “foguete não tem ré”. Mais uma frase cunhada para motivar pessoas a entrarem nessa selva cruel onde as derrotas devem ficar escondidas, colocadas no fundo da alma, para assim entrarem num sistema cruel: sorrir em público e se autodestruir na solidão. Você não pode rever, reconhecer, ressignificar, pois isso significa uma avaliação do que já fez ou do que sentiu. Está proibido. Foguete não tem ré.
Foguetes não tem ré e não podem sentir a emoção de uma conquista, foguetes não tem ré e não sabem o que é a saudade. Foguetes não tem ré não se emocionam com a filha entrando na faculdade. Foguetes não tem ré e nem amor, nem tesão, nem o frio na barriga de uma paixão… Foguetes não tem ré e sabe o que isso tem a ver com você? Nada, absolutamente nada.
Não se entregue a essa obrigação, se proteja do canto da sereia do sucesso pleno, muitos se renderam e por isso vão acumulando frustrações e para manter o castelo de cartas em pé vão reprimindo sentimentos e se abandonando pelo caminho. Acreditam terem chegado lá, mas são apenas prisioneiros das próprias mentiras.
Olhe para o passado, chore de saudade, peça perdão por suas falhas, reavalie decisões. Lamente os beijos que não deu e se proponha a beijar mais daqui pra frente.
Sentir é uma característica humana, poder falar dos sentimentos é ser livre.
Vou e volto, acerto e erro, decido e muitas preciso rever minhas decisões.
Gosto dessa minha complicada existência.
© VILLY FOMIN I Psicanalista Clínico

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