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O que fazer no deserto.

  • Foto do escritor: VILLY FOMIN
    VILLY FOMIN
  • 17 de set. de 2021
  • 2 min de leitura

Há alguns anos embarquei em um desafio: correr os 100 km do Deserto do Saara. Um lugar inacreditável. O vento não para, dia e noite ele chama a areia pra dançar, juntos eles fazem os mais variados desenhos. O deserto parece um monstro se mexendo lentamente.


No segundo dia a prova era de 30 km, esse foi o dia mais quente, corremos (meu sogro e eu) com 54 graus, o vento quente deixava tudo mais complicado. Foi a primeira vez que pensei em desistir. Já havia corrido outras 11 maratonas (42 km) todas foram difíceis, mas jamais tinha pensado em desistir. No Saara, desistir parecia ser a decisão mais sensata. Não desisti por uma razão: sabia que se desistisse um dia eu teria que voltar lá para cumprir a prova!


No último dia foram 42 km de deserto com direito a tempestade de areia. A chegada foi em uma pequena cidade no litoral da Tunísia. Medalha no peito, tulipa de chopp na mão, dor em todos os cantos do corpo e uma alegria indescritível no coração.


Maratonas são metáforas da vida, o deserto também, pois estamos todos correndo, cada um com suas metas pessoais, com sua velocidade e percurso. Aliás, creio que isso é fundamental: corra sua prova, no seu ritmo, não se encante com o ritmo do vizinho, você não sabe como é a prova dele, nem suas metas e possibilidades. Viva com os outros, mas não viva a vida dos outros, encontre seu ritmo e siga.


Deserto é um lugar de esvaziamento, um espaço com poucos recursos externos, o que nos possibilita (ou obriga) conhecer e gerar novos recursos internos, a mesmice da paisagem de fora nos convida a olhar para dentro e ver algo diferente.


O deserto é um lugar de reavaliação de prioridades, valores e pode ser um tempo de encontro: você com seu coração, você com Deus, você com algo que acredita. Pode ser um tempo de transcendência, rompimentos, superação e autoconhecimento.


O deserto pode ser o fim ou o início de uma nova fase. Pode ser um tempo de perdas, mas também pode ser um tempo em que descobrimos que algumas coisas devem ficar pelo caminho para que a vida fique mais leve. Por mais estranho que pareça algumas perdas são nossos maiores ganhos.


VILLY FOMIN

Psicanalista e escritos.



 
 
 

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