Cicatrizes
- VILLY FOMIN
- 26 de jun. de 2019
- 2 min de leitura
Tenho uma cicatriz no joelho fruto de uma desobediência.
Meu pai avisou uma vez, duas vezes... O fato é que eu acreditava cegamente que minha habilidade na bicicleta estava bem acima dos insistentes avisos dados por ele. Em uma das curvas do meu circuito, perdi o controle da bike...
Joelho esfolado, terra e sujeira agarradas na pele sangrando, mas a dor física não chegava perto da dor na alma! Olhei para ele e veio aquela frase que todo teimoso odeia: “Eu avisei”. Pedi desculpa ao meu pai e ele disse: “Acontece, preste mais atenção na próxima”.
Com um sorriso no rosto ele cuidou do meu joelho e, sem dúvida, do meu coração também.
Trinta anos depois lembro dessa cena com saudade. Passou, a dor se foi, a vergonha também, a cicatriz está comigo. Que bom.
Quantos tombos levamos durante a vida? É possível fazer a conta? Não, não é possível. Caímos muito, erramos durante toda a vida. Errar é do viver, cair faz parte do jogo, a beleza está em levantar e continuar.
Sou psicanalista, escuto histórias, acolho lamentos, acompanho pessoas em momentos doloridos e tento ajudá-las a entender que ninguém precisa se condenar pelos tombos, ninguém precisa desistir porque deu errado. Não acredito que as pessoas são definidas por seus fracassos, mas pela maneira como levantam e continuam.
Na varanda do meu apartamento temos um quadro com diversas fotos e algumas frases que trocamos de tempos em tempos. A Carol colocou uma frase no quadro que gostei demais, na qual me atrevi a fazer uma adaptação:
"Cicatrizes não são a prova de que você morreu, mas de que você prevaleceu diante de algo que poderia matar".
Você pode dizer: Minha história é toda costurada, tenho várias marcas, algumas trazem duras lembranças… É verdade, carregamos marcas em nosso coração que revelam períodos doloridos, dignos de serem esquecidos. Mas histórias doloridas dificilmente serão esquecidas. Então inverta o jogo, a cicatriz provará que aquele momento dolorido não foi capaz de tirar sua vontade de viver.
Cicatrizes podem ser a lembrança de algo ruim que fizeram com você, mas elas também podem ser um memorial de algo bonito que você fez com aquilo que fizeram com você.
Essas marcas lembram que você enfrentou o câncer, o divórcio, o desemprego, a morte e mesmo assim continuou vivendo, sonhando, pedalando…

Quando vejo minha cicatriz no joelho, lembro do tombo, lembro da curva, mas decidi que ela é a marca de um pai que me incentivou a pedalar novamente.
Lindo me lembrei fe mtas coisas 😍